quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Índios e agricultores temem construção de hidrelétrica no Pará

Se construída, Belo Monte deve inundar 1.241 propriedades rurais. Ibama deve conceder licença prévia para a obra em fevereiro.

Ela ainda aguarda licença prévia ambiental do Ibama para sair do papel, mas já vem gerando polêmica há três décadas. A usina terá dois reservatórios no Rio Xingu: a barragem principal ficará próxima de Altamira, de onde deverão sair canais que serão construídos para abastecer um segundo reservatório rio abaixo, numa área que pertence ao município de Vitória do Xingu.

Os estudos de impacto ambiental mostram que os dois reservatórios de Belo Monte devem provocar inundação total ou parcial de pelo menos 1.241 propriedades rurais, onde vivem quase 3 mil agricultores. O levantamento também indica que em 78% desses imóveis são desenvolvidas atividades ligadas à agricultura familiar e à pecuária bovina.

As famílias atingidas terão que ser reassentadas em outras áreas e devem receber indenização pelas benfeitorias. O agricultor João Pereira se enquadra nesse caso. Toda semana, ele leva para a feira de Altamira as frutas e legumes que produz na roça. Agora, tem receio de perder tudo o que construiu em 25 anos de trabalho.

“Nós vivemos desses produtos. Se formos ser tirados para outro lado, não sei para onde vamos e não sei como vamos sobreviver. É para isso que queremos uma solução”, diz. A construção de Belo Monte poderá custar até R$ 30 bilhões. Em dez anos, deve gerar de 18 a 20 mil empregos diretos. Ainda assim, o projeto desperta polêmica há quase três décadas. Além dos agricultores, as críticas vêm de comerciantes e representantes dos movimentos sociais.

“Eu não queria que esse governo entrasse na história como um governo que arrasou a área do Xingu, que arrasou com esses povos e não colocou alternativas para que esses povos possam sobreviver”, falou dom Erwin Krautler, presidente do Conselho Indigenista Missionário.

Índios


As comunidades indígenas também se mostram resistentes ao projeto. Um grupo de caciques foi a Brasília contestar a construção da hidrelétrica. “Isso já custou 20 anos da nossa história de trabalho e de sofrimento. Nós não estamos mais dispostos a fazer mais essa brincadeira de gato e rato do governo federal. Ou ele respeita nossos povos indígenas ou os povos indígenas, que já declararam guerra contra Belo Monte e é isso que vai acontecer no futuro se o povo insistir em implantar Belo Monte na nossa região”, avisou Luís Xipaia, cacique e presidente do Conselho Indígena de Altamira.

Por enquanto, não há previsão para o inicio das obras. O Ibama ainda está examinando os documentos para a concessão da licença prévia. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, informa que o Ibama deve conceder a licença prévia para o início da obra no mês de fevereiro.

Com informações da Globo Amzônia

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