A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) divulgou nesta quarta-feira, dia 13, carta endereçada a Senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB/AM), atual presidente da Subcomissão Permanente da Amazônia do Senado Federal. No texto, a COIAB discorda de pronunciamento da parlamentar que se opôs à nota da Organização dos Estados Americanos (OEA), que se posicionou contra a tentativa do Governo Brasileiro de construir a Usina Hidrelétrica de Belo Monte sem a devida consulta as populações tradicionais que serão afetadas pela obra.
Leia abaixo a íntegra da carta da COIAB :
A Excelentíssimo Senhora VANESSA GRAZZIOTIN
Senadora da República Federativa do Brasil
Excelentíssima Senadora,
A respeito dos seus comentários no início do mês, referente ao posicionamento da OEA – Organização dos Estados Americanos, com relação ao Complexo Hidrelétrico de Belo Monte, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB, maior organização indígena do país, representante do movimento indígena amazônico, com atuação nos nove estados da Amazônia Brasileira, vem por meio desta lhe informar que a questão indígena no país e as grandes obras na Amazônia, são bem mais complexas do que um simplório discurso político na tribuna do senado.
A maior floresta tropical do planeta abriga uma população indígena que está estimada em 440.000 pessoas, falando 160 línguas, 180 Povos Indígenas, dos quais, 66 vivem de forma livre e autônoma, sem contato com a sociedade envolvente.
A região é cobiçada por madeireiros, garimpeiros, pecuaristas e uma série de investidores do agronegócio. Uma região de difícil acesso, inclusive para as políticas públicas que dificilmente chegam até as populações mais afastadas.
Quando se pensa em desenvolvimento na Amazônia, existem dois modelos em questão. O primeiro nasce da necessidade do capitalismo selvagem de propagar sua política de opressão e destruição, na corrente do dito progresso. Progresso esse que invade a Amazônia e está destruindo tudo o que encontra, sem respeitar povos indígenas, meio-ambiente ou quem quer que seja.
Esse modelo, que tem a cara do Governo Federal, provoca mais do que o repúdio e a manifestação contrária dos povos indígenas, ribeirinhos e movimentos sociais. Provoca a nossa ira e profunda indignação. É um desrespeito, uma ofensa. Existe outro modelo de desenvolvimento. Um modelo que respeita o meio ambiente e acredita que a natureza deve ser preservada. Os guerreiros e guerreiras indígenas estão em uma luta constante pela garantia de viverem em paz, conforme sempre viveram, em perfeita harmonia com a Amazônia e seus recursos naturais e culturais, importantes para os nossos povos.
Que modelo Vossa Excelência defende? O que é histórico no Brasil é a resistência dos povos indígenas aos mais de 500 anos de tentativa de extermínio físico e cultural que enfrentamos.
Muito nos impressiona sua fala que apoia a construção de um empreendimento desta natureza que irá impactar milhares de pessoas e diversas comunidades indígenas e não indígenas, e ainda devastará grande parte da nossa fauna e flora, quando nas eleições a senhora tanto defendia.
A atitude tomada pela OEA é a mais sensata possível para a manutenção da vida naquela região. Quando uma instituição de peso como é o caso da OEA se pronuncia é porque as coisas não estão sendo feitas corretamente como deveriam.
Com relação às audiências feitas pela FUNAI, temos a informar que não é de conhecimento da COIAB e muito menos das lideranças daquela região, o que sabemos é que foram feitas pequenas reuniões com a participação de um contingente mínimo de indígenas que na maioria das vezes não sabiam do que se tratavam as reuniões.
A senhora afirma que não existe país no mundo que tenha tanta terra demarcada, mas a senhora não menciona que o Brasil é um dos países que tem o maior contingente indígena do Mundo, sendo assim necessário um grande numero de terras indígenas.
Nós povos indígenas da Amazônia e as nossas Terras, estamos resistindo a este modelo. Está comprovada a contribuição das Terras Indígenas para a preservação da Amazônia. Estudos feitos pelo Departamento Etnoambiental da COIAB comprovaram que as Terras Indígenas são as maiores barreiras para o desmatamento.
No arco do desmatamento, o estudo mostrou que mais de três milhões de hectares de floresta deixaram de ser desmatados, por ser território indígena.
É por isso excelentíssima senadora, que não precisamos desse modelo de desenvolvimento em nossa região. Precisamos de envolvimento e comprometimento dos nossos representantes em Brasília, para que os direitos sejam respeitados e a Amazônia seja protegida.
Manaus, capital amazônica do Mundo, 13 de abril de 2011.
Saudações Indígenas,
MARCOS APURINÃ
Coordenador Geral da COIAB
SÔNIA GUAJAJARA
Vice Coordenadora da COIAB
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