segunda-feira, 16 de abril de 2012

Povo Pataxó Hã Hâ Hãe retoma seu território tradicional na Bahia


Lideranças indígenas do Povo Pataxó Hã Hã Hãe iniciaram na manhã deste domingo, dia 15, a retomada de seu território tradicional, que compreende cerca de 54,1 mil hectares em uma região distribuída entre os municípios de Itaju do Colônia, Pau Brasil e Camacan, no estado da Bahia. Foram ocupadas 8 fazendas.

Desde que iniciaram a luta para recuperar suas terras invadidas pelos fazendeiros da região,  os índios têm sido assassinados, perseguidos e criminalizados,  sem que nenhum culpado tenha sido levado à Justiça até hoje.  Além disto, há 29 anos tramita no Supremo Tribunal Federa uma ação proposta pela Funai em que se pede a nulidade dos títulos  concedidos irregularmente pelo governo estadual aos proprietários de terras em Pau Brasil e nos outros municípios.

Aliados da elite política e das forças de segurança locais, incluindo a Polícia Federal, os grandes proprietários de terras, além de responsáveis pela morte e desaparecimento de lideranças, também promovem, através do poder econômico, uma campanha difamatória na imprensa baiana, que acentua  ainda mais o preconceito contra os indígenas, já tão presente em nossa sociedade.  

Os Pataxó Hã Hã Hãe garantem que a ocupação é pacífica e que nenhum dos funcionários das fazendas ocupadas  foi ou será ferido. Eles, no entanto, temem pela segurança de suas famílias, pois sabem que os pistoleiros à mando dos fazendeiros constumam reagir com grande violência e, segundo informações recebidas,  já estariam se preparando para uma represália
      
Leia abaixo a íntegra de  um manifesto divulgado pela lideranças Pataxó Hã Hã Hãe  no dia de ontem :  

Manifesto do  Povo Pataxó Hã Hã Hãe em 15 de abril de 2012

               
Hoje pela manhã nós Pataxó Hãhãhãe iniciamos a retomada da região sul de nosso território tradicional, região esta conhecida como Rio Pardo devido à proximidade do rio de mesmo nome. A região estava toda ocupada por fazendeiros. A ação de retomada de nosso território ocorreu de forma pacífica, pois não haviam pistoleiros no momento que entramos nas áreas. Em razão de termos feito retomadas recentes, os fazendeiros desta região certamente acreditavam que não iriamos tentar retomar novas áreas por agora, em razão disto as fazendas não estavam sendo guardadas por pistoleiros e assim pudemos ocupa-las.

Acreditamos que nossas ações de retomada são necessárias, pois já não podemos mais viver sem que tenhamos acesso a todo o território que temos direito de ocupar. A ação de nulidade de títulos de terras já se arrasta na justiça por três décadas, nesse tempo nossa comunidade cresceu, muita gente morreu e não viu nossos direitos sendo reconhecidos e respeitados. Durante estas nossas últimas ações que se iniciaram no começo deste ano, sofremos ameaças, tentativas de assassinato, e diversas outras represálias. Somado a isso, estamos sendo sistematicamente difamados pelos meios de comunicação que nos tratam como invasores de terras, dentre outras coisas igualmente depreciativas. Somos um povo pacífico, trabalhador, lutamos diariamente por nossa sobrevivência, e não aceitamos sermos tratados como um bando de criminosos com o objetivo de negarem nossos direitos sobre nossos territórios. Estamos percebendo uma campanha por parte dos fazendeiros e seus aliados que vem tentando nos desqualificar, e com isto justificar o esbulho de terras praticados contra nós Pataxó Hãhãhãe por décadas a fio.

Já estamos tendo notícias de que os fazendeiros estão se armando e convocando suas milícias para tentar nos expulsar mais uma vez de nossas terras, como já fizeram muitas vezes. Os pistoleiros são pessoas perigosas que agem com extrema violência. As pessoas na cidade de Pau Brasil já estão se comunicando conosco e avisando que nenhum índio vá para a cidade, pois o clima está muito perigoso. Estão vendo o movimento de homens armados convocados para nos retirar a força das áreas que acabamos de ocupar.

Diante disto, solicitamos às autoridades competentes que tomem as ações necessárias para manter a paz em nossas terras e regiões adjacentes, impedindo o livre transito de homens armados pelas estradas e cidades da nossa região. Reafirmamos que nossas ações se pautam em nosso direito histórico sobre nosso território tradicional, não agimos com violência e não desejamos que a violência dos fazendeiros atinja a ninguém, sejam índios ou não índios.

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