Quando criança, ao ser chamado de índio, o descendente dos Terenas, José Carlos Pacheco, sentia vergonha de sua origem. Como todo garoto, não gostava de ser considerado diferente, situação que mudou apenas quando tomou consciência da relevância de sua cultura.
Apesar de ter nascido em área urbana, no município de Anastácio, a 130 km de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul (MS)– ao contrário dos avós, que viveram em aldeia –, ele também sentiu na pele a discriminação pela qual passaram e passam povos de etnias como Kaiowá, Guarani, Aticum, Kadiwéu, Guató, e outros que sofrem diariamente com a desigualdade e com a exclusão.
“Prova disso é que dos 70 mil índios em Mato Grosso do Sul, segunda maior população indígena do Brasil, apenas 1% está no mercado de trabalho, com carteira assinada”, conta.
Para reverter essa forma de violência, consolidar uma política dentro da Central e reforçar a importância dos povos originários para a região e para o Brasil, a CUT-MS lança no dia 20 de agosto o primeiro coletivo de trabalhadores indígenas do Brasil.
A ação é fruto de três anos de uma luta que contou com Pacheco, servidor público em Anastácio e diretor de relações sindicais da Federação Sindical dos Servidores Públicos Municipais do Estado de Mato Grosso do Sul, e também com os companheiros Evanildo da Silva (Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias Bauru-MS-MT), Gilson B. Pereira (Sindicato dos Empregados em Empresas de Segurança Privada de Campo Grande e Região) e com o presidente da CUT local, Jefferson Borges. Além do apoio da secretaria nacional de Formação da CUT.
José Pacheco faz questão de frisar que a principal preocupação do coletivo é com questões ligadas ao mundo do trabalho. “Dentro da CUT, nós sempre nos envolvemos nos debates sobre nossas terras, ameaçadas por grandes latifundiários, que contratam pistoleiros para tentar nos intimidar, mas nossa missão será dar visibilidade à luta dos trabalhadores indígenas e tratar de questões como formação profissional e o acesso aos empregos formais. Iremos promover também cursos para mostrar a importância da CUT e do movimento sindical na luta por direitos iguais aos demais trabalhadores”, comentou.
Reverter o estereótipo – Ao contrário do que se costuma pensar, as atividades dos trabalhadores indígenas não se restringem ao serviço braçal, como o corte de cana nas usinas de álcool. Muitos são professores da rede pública, atuam nas indústrias de alimentação, frigoríficos, comércios, vigilantes, ferroviários. Porém, diversas vezes, recebem menos para realizar a mesma função e não encontram espaço para ascender profissionalmente.
“Queremos trabalhar no entendimento dos trabalhadores na preservação da cultura e mostrando a importância dos povos originários brigarem por seu espaço na sociedade. Com a criação do coletivo, ganham os trabalhadores indígenas e a CUT, que terá ainda maior legalidade para participar dessa discussão”, define Pacheco.
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