sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

População atingida repudia construção da Hidrelétrica de Belo Monte (PA)



Dezenas de índios, ribeirinhas e representantes de movimentos sociais se reuniram ontem (01/12) no auditório da Procuradoria Geral da República (PGR) para a audiência pública que debateu a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. A intenção era promover o debate entre o Governo Federal e as populações que serão mais atingidas caso o projeto se concretize.

A mesa de debates foi coordenada pela Dra. Débora Duprat, vice- Procuradora Geral da República.

Apesar da relevância do debate, os representantes de importantes órgãos do Governo Federal não compareceram ao encontro. Fundação Nacional do Índio (Funai), Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras), por exemplo, faltaram ao debate. Diante da ausência, a vice-procuradora pediu que se registrasse formalmente estas faltas. Já a Presidência da República e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) enviaram representantes.

Os indígenas, maioria no auditório, foram categóricos: repudiam a construção da barragem e da hidrelétrica de Belo Monte. Eles expressaram seu descontentamento não apenas por meio dos discursos, mas também pelos documentos que entregaram. Várias lideranças afirmaram que não vão desistir da luta assim tão facilmente. Alguns chegaram mesmo a dizer que haveria derramamento de sangue na defesa do rio.

Marcos Apurinã, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), ressaltou que no Xingu existem ainda muitas aldeias indígenas que só se alimentam de peixe. “Se o peixe acabar os índios morrem”, disse. Ele também expressou seu descontentamento com a ausência de atores estratégicos durante o debate. “Se o governo não quer nos ouvir, paciência. Depois também nós não teremos mais o que falar com eles”, declarou.

A ribeirinha Antônia Melo, coordenadora do Movimento Xingu Vivo para Sempre, ressaltou que a população não teve o direito de ser ouvida e que a voz dos indígenas pouco importou ao governo. “Hoje, mais uma vez, eles não quiseram ouvir o povo. Não quiseram debater com o povo”. E continuou: “É uma vergonha a arbitrariedade com que estão tratando nossa gente”.

Índios, pesquisadores, estudiosos e participantes de diversos movimentos foram unânimes ao dizer que a obra é inviável, um empreendimento destruidor. Os participantes da audiência também informaram em diversas ocasiões alertaram que a construção da usina representa uma catástrofe para os habitantes da região. Eles afirmaram, ainda, que estas áreas estão sendo destruídas por empreendimentos desse tipo e declararam que não vão deixar mais isto acontecer.

As lideranças indígenas avisaram que vão lutar por seus direitos até o último índio. Elas também lembraram que são os primeiros brasileiros e que são os donos destas terras, embora tenham enfrentado perdas de vidas e de riquezas culturais nos últimos 500 anos. Todas foram enfáticas ao dizer que não aceitam a hidrelétrica e que estão dispostas a defender de forma aguerrida o rio Xingu e suas populações.

O coordenador nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens, Rogério Hohn, ressaltou a importância da solidariedade nestes casos. Ele frisou que os impactos que acontecem com uma população, com uma região, afetam outras partes do mundo. "Temos que acreditar na nossa força e parar de acreditar em discursos demagogos que só fazem mal ao povo brasileiro". Hohn finalizou dizendo que enquanto o BNDES vê no rio Xingu dinheiro e lucro, a população enxerga neste mesmo rio a tradição, a sobrevivência e a vida.

No fim, a Dra. Débora Duprat se comprometeu a combater o avanço deste projeto enquanto ele estiver apresentando tantas irregularidades ou enquanto afrontar os direitos humanos. O representante da Presidência da República, Paulo Muldus, disse que vai levar todas estas questões e realidades ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele disse acreditar que o presidente vai tomar sua decisão com base na justiça.
Fonte: Inesc

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