O Governo da Presidente Dilma, por meio da Advocacia Geral da
União baixou no último dia 16 de julho a Portaria 303, que diz considerar “a
necessidade de normatizar a atuação das unidades da AGU em relação às
salvaguardas institucionais às terras indígenas”, supostamente nos termos do
entendimento fixado pelo Supremo Tribunal Federal na Petição 3.388-Roraima
(caso Raposa Serra do Sol).
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB manifesta
publicamente o seu total repúdio a esta outra medida autoritária do Governo
Dilma que como o seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, considera os povos
e territórios indígenas ameaças e empecilhos a seu programa neodesenvolvimentista,
principalmente à implantação do PAC e do PAC 2, pois dificultam os processos de
licenciamento das obras do Programa (hidrelétricas, ferrovias, rodovias, usinas
nucleares, linhas de transmissão etc.)
A APIB repudia esta medida vergonhosa que aprofunda o desrespeito
aos direitos dos povos indígenas assegurados pela Constituição Federal e
instrumentos internacionais assinados pelo Brasil. Entre outras aberrações
jurídicas, a Portaria relativiza, reduz e diz como deve ser o direito dos povos
indígenas ao usufruto das riquezas existentes nas suas terras; ignora o direito de consulta
assegurado pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT); reduz
o tratamento dos povos indígenas à condição de indivíduos, grupos tribais e
comunidades; afirma que são as terras indígenas que afetam as unidades de
conservação, quando que na verdade é ao contrário, e, finalmente, enterra, ditatorialmente, o direito de autonomia
desses povos reconhecido pela Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos
Indígenas.
A Portaria 303 da AGU, publicada oportunamente depois da
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) e das
pressões da OIT, e ainda às vésperas do recesso parlamentar, que poderia
comprometer a aprovação de medidas provisórias e projetos de lei de interesse
do Executivo, aprofunda o estrangulamento dos direitos territoriais indígenas
iniciados com a paralisia na tramitação e aprovação do Estatuto dos Povos Indígenas,
engavetado há mais de 20 anos na Câmara dos Deputados, e com a edição das
Portarias Interministeriais 420
a 424, que estabelecem prazos irrisórios para a Funai se
posicionar frente aos Estudos de Impactos e licenciamento de obras. Isso, sem
citar em detalhes a aprovação da PEC 215 e a falta de coragem em vetar na
íntegra as mudanças ao código florestal defendidas pela bancada ruralista.
A AGU desvirtua e pretende reverter o já arquivado processo do
STF, cujo plenário conforme reiterado em 23 de maio de 2012 pelo ministro
Ricardo Lewandowski, já declarou especificamente a constitucionalidade da
demarcação contínua da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, observadas 19
condições ou salvaguardas institucionais. Só que tal decisão não tem efeito
vinculante, segundo o magistrado. Ou seja, não pode ser forjada a ligação entre
o processo da Raposa Serra do Sol com as demais Terras Indígenas do Brasil. Do
contrário fica evidente o propósito deste Governo de submeter mais uma vez o
destino dos povos indígenas, a demarcação de suas terras, aos interesses do
agronegócio, do capital financeiro, das empreiteiras, da grande indústria, das
corporações e da base política de sustentação que lhe garante governabilidade
no Congresso Nacional e em outras estruturas do Estado.
Este tratamento dado aos povos indígenas não tem cabimento num
Estado democrático de direito a não ser num Estado de exceção ou num regime
ditatorial cujas políticas e práticas a atual presidente da República e seus
mais próximos assessores conhecem bem.
Se o governo da Presidente Dilma tomar a determinação de levar em frente
à aplicabilidade destes instrumentos jurídicos que legalizam a usurpação dos
direitos indígenas, principalmente o direito sagrado à terra e o território. Estará notoriamente desvirtuando
e tirando a credibilidade de seus propósitos ao chamar os povos indígenas, por meio de seus dirigentes e instâncias
representativas, a dialogar sobre a promoção e proteção dos direitos indígenas
no âmbito de distintos espaços como a Comissão Nacional de Política Indigenista
(CNPI) e o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) que promove a
regulamentação dos mecanismos de aplicação do direito de consulta e
consentimento livre, prévio e informado, estabelecido pela Convenção 169 da
Organização Internacional do Trabalho (OIT). Além de tudo, irá contrariar os princípios da boa fé e
do efeito vinculante deste instrumento internacional, incorporado desde 2004 no
ordenamento jurídico nacional.
A APIB lamenta que um Governo que se diz democrático, em nome das
pactuações que lhe dão sustentação, do progresso e do crescimento econômico,
sacrifique os direitos coletivos e fundamentais dos primeiros habitantes deste
país, que não obstante as diversas tentativas de dizimação promovidas pelo
poder colonial e sucessivos regimes de governo, é depositário da maior
diversidade sociocultural do mundo, com mais de 230 povos indígenas
reconhecidos e várias dezenas de povos ainda não contatados.
A APIB reafirma a sua missão de lutar pela promoção e defesa dos
direitos dos povos indígenas.
Brasília, 18 de julho de 2012.
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil - APIB
Em nome do quê? Esse tipo de portaria não é aprovada em nome de progresso e crescimento, ou temos que REVER URGENTEMENTE o conceito de progresso e de desenvolvimento!!! Isso é aprovado em favor da apropriação do dinheiro público por meio de obras faraônicas sem valor real. A cada hidrelétrica construída eles embolsam 30% do valor, dinheiro para uso pessoal dos corruptos nacionais e para a reeleição da Dilma!!! Vergonha e impunidade Nacional!!! BRASIL, um dos países mais corruptos DO MUNDO!!!
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