quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Santuário dos Pajés é invadido em Brasília


Sem mandado judicial, para representantes do GDF tudo não passou de um mal entendido

Tratores e escavadeiras invadiram nesta terça-feira (16) o Santuário dos Pajés, Território Indígena (TI) localizado no Setor Noroeste de Brasília (DF). A ação ocorreu pela manhã, logo após parte dos indígenas ter saído para o trabalho, e foi amparada pela Polícia Militar. “Como eu estava nas terras, ainda pude avisar aos outros pelo telefone e iniciei a resistência com alguns aliados que chegaram primeiro”, conta Xoá Fulni-ô, 26 anos, morador de uma das aldeias.

O maquinário utilizado pertence à Terracap (Companhia Imobiliária de Brasília), conforme os indígenas, e deixou quatro grandes clarões no cerrado ao derrubar árvores e vegetação nativa. Não havia mandado judicial para a ação e diante da pressão, além da completa ilegalidade, policiais justificaram que estavam ali para garantir a segurança e as máquinas se retiraram – os soldados chegaram num microônibus da PM.

“Antes fizeram esses estragos e deixaram os parentes tensos. A polícia disse que veio garantir a segurança, mas garantiu mesmo foi que as máquinas invadissem e destruíssem o território quando todos tentavam impedir a entrada delas”, explica Xoá. O território fica ao lado dos canteiros de obras dos condomínios de luxo erguidos pela Terracap e construtoras locais – entre elas a Brasal (veja vídeo dos funcionários usando uniformes da construtora flagrados saindo do território indígena).

Nas terras moram nove famílias – cerca de 27 indivíduos. Seus antepassados chegaram ali em 1957 para trabalhar na construção de Brasília. Eram os índios candangos. Encontraram nas matas do Noroeste local ideal para viver em contato com a cultura que fizeram questão de não deixar para trás. Gerações cresceram ali em contato com os rituais, o Bem Viver indígenas – há quase uma dezena de povos vivendo no território – e toda a cultura ancestral.

Processo judicial

Awá-Mirim Tupinambá, jovem liderança dos indígenas do Santuário, afirma que o Governo do Distrito Federal (GDF) conhece a ocupação indígena. De acordo com Awá, a juíza Federal Candice Jobim derrubou liminar que mantinha o Grupo de Trabalho (GT) da Fundação Nacional do Índio (Funai) e todo processo de demarcação do território que compõe o Santuário.

Em 16 de março de 2009, o Ministério Público Federal (MPF) embargou as obras da Terracap e determinou a instauração do GT pela Funai. “O MPF tem 20 dias para se manifestar sobre a decisão da juíza e esse prazo ainda não acabou. Então por que é que fizeram isso de invadir e destruir? É completamente ilegal”, ataca Awá.

O Setor Noroeste deverá ser o metro quadrado mais caro do Distrito Federal e do país. Conforme já foi divulgado pela imprensa, estima-se que até o final da construção dos conjuntos de luxo o valor chegue a R$ 20 mil. Entre 2009 e 2010, mais de dez tentativas de invasão foram repelidas pela comunidade. Esse ano, a casa do irmão do cacique Santie Fulni-ô foi incendiada. “Voltou com as ameaças, invasões e os incêndios porque sabem que este mês o estudo dos antropólogos será entregue na Funai. Digo que vamos resistir até o fim”, avisa o cacique que chegou no Santuário em 1970. Xoá vai na mesma linha: “Se querem nos tirar daqui que mandem caixões porque só saímos mortos. Nossos troncos antigos deram o sangue por essas terras para as futuras gerações e vamos fazer o mesmo”.

Para Santie, o episódio é sinal de que a Funai precisa acelerar o processo de demarcação e que o Estado precisa respeitar os direitos indígenas.

Estudantes e professores da Universidade de Brasília (UNB), Faculdade Projeção, antropólogos e militantes sociais, caso do Centro de Mídia Independente (CMI), além do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) estiveram no território para prestar apoio e solidariedade aos indígenas.

Mal entendido

De acordo com representantes do GDF, tudo não passou de um mal entendido. Por isso as máquinas foram retiradas do local assim que se soube do que estava acontecendo no Santuário. No entanto, os indígenas dizem que continuarão com as rondas e esquemas de segurança para repelir os invasores.

Fonte : Brasil de fato

Comissão propõe indenização como solução para conflitos de terras em MS

A solução para os conflitos de origem fundiária em Mato Grosso do Sul está na indenização dos produtores pelas propriedades em litígio. Esta foi a definição da primeira reunião da Comissão Especial sobre a Questão Indígena de MS, realizada na última segunda-feira, em Brasília. Formada por membros do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Ministério Público Federal (MPF), Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Famasul) e lideranças indígenas, entre outros, a comissão tem objetivo de encontrar uma solução para a questão territorial no Estado.

A proposta de indenização foi consenso entre os integrantes da Comissão e é a posição defendida pela Famasul como a mais viável para se chegar a uma resolução justa para ambos os lados. Em audiência com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, no dia 5 de julho, o presidente da Federação, Eduardo Riedel, juntamente com o senador Delcídio do Amaral e o presidente da Assembléia Legislagiva Jerson Domingos, entregou proposta de resolução para as constantes ocupações de terras por indígenas. Atualmente são 42 as propriedades ocupadas no Estado.

 A proposta de indenização voltará à pauta da comissão na próxima reunião, marcada para o dia 29 de agosto.

A Comissão Especial sobre a Questão Indígena foi formada a partir das discussões do seminário “Questões fundiárias em Dourados-MS”, promovido pelo CNJ naquele município, em maio deste ano, com finalidade de fomentar o debate e propor soluções para a questão territorial em Mato Grosso do Sul.

Fonte  : Agora MS

Vídeo - Povos Indígenas participam da Marcha das Margaridas

Governo quer fazer testes de HIV, hepatite e sífilis em índios

O governo lança neste mês um programa destinado a realizar testes rápidos de HIV, sífilis e hepatites B e C em todas as aldeias indígenas do Brasil. A ação pretende examinar, até o fim de 2012, todos os índios brasileiros com mais de 10 anos - idade média para o início da vida sexual no grupo - e encaminhar para o tratamento os que obtiverem resultados positivos. Segundo o secretário especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Antônio Alves de Souza, resultados de um projeto piloto do programa, aplicado em 46 mil indígenas do Amazonas e de Roraima, indicaram níveis "preocupantes" de HIV e sífilis.

A prevalência de sífilis na população indígena avaliada foi de 1,43%, inferior à média do resto do país (2,1%), ao passo que a de HIV foi de 0,1%, ante 0,6% da média nacional. Para Souza, ainda que inferiores aos índices nacionais, ambos os dados exigem atenção por demonstrar que há transmissão dos vírus mesmo em populações isoladas, o que indica que seus integrantes mantêm contato com pessoas contagiadas fora das aldeias.

"Qualquer índio que obtenha resultado positivo numa aldeia é motivo de preocupação", disse o secretário. Em gestantes indígenas, a prevalência de sífilis foi de 1,03%, mais baixa que as taxas encontradas em gestantes nos centros urbanos (1,6%). O índice de HIV em indígenas gestantes foi de 0,08%. Segundo o Instituto de Geografia Estatística (IBGE), há cerca de 650 mil indígenas em aldeias no Brasil.

Resultados rápidos

De acordo com Souza, os kits para o teste garantem, com poucas gotas de sangue, a obtenção dos resultados em até 30 minutos e podem ser transportados mesmo em condições de calor e umidade, fator essencial para que sejam levados às aldeias mais remotas. Antes, os indígenas precisavam ser removidos para as áreas urbanas para a coleta de sangue e posterior análise dos resultados, o que podia levar até 15 dias.

Os testes começam a ser aplicados em aldeias de Minas Gerais, do Espírito Santo e do Mato Grosso nos dias 27 e 28 de agosto; nos meses seguintes, devem chegar aos demais Estados. Souza explica que os aplicadores estão sendo treinados por cerca de 70 técnicos que participaram de um seminário em Brasília no mês passado. Em caso de resultados positivos para sífilis, a equipe dará início imediato ao tratamento; já nos casos de HIV e hepatite, os indígenas serão convidados a realizar testes de confirmação no município mais próximo. Comprovada a doença, serão tratados em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS).

Para Souza, ao promover o encaminhamento à cidade somente dos indígenas diagnosticados, o programa garantirá a economia de recursos. Ele afirma ainda que uma das premissas do programa é garantir que os resultados dos exames fiquem sob sigilo, para evitar a discriminação dos infectados. Segundo ele, o programa também visa informar os indígenas sobre como as doenças se transmitem e os modos de prevenção. Para isso, explica que os agentes terão de levar em conta as características culturais locais.

"Sabemos que há culturas indígenas que não aceitam o uso de preservativos. Teremos que trabalhar para que, se não usarem na aldeia, ao menos usem quando se deslocarem à área urbana, em caso de contato com pessoas de fora", disse. Ele afirmou que, em certos grupos, as mulheres costumam ser mais resistentes ao uso da camisinha, questão que também deve ser abordada nas campanhas educativas.

Tratamento de HIV

A médica e idealizadora do programa, Adele Benzaken, da Fundação Alfredo da Matta, diz que, no projeto piloto, quase 100% do público-alvo concordou em fazer o teste. Ela afirma ainda que a acolhida aos tratamentos indicados para sífilis tem sido igualmente positiva. "A população indígena gosta de ser testada e acredita muito no tratamento injetável".

O problema maior, segundo Benzaken, é convencê-los a se tratar em caso de HIV, pois diz que os indígenas costumam resistir à ideia de que devem passar o resto da vida ingerindo medicamentos para combater uma doença que, em muitos casos, demora a provocar sintomas. Outra complicação é removê-lo para o município mais próximo. "Já vi indígena se negar porque quer fazer o tratamento com o pajé, e aí você não pode fazer nada", afirma. A transferência para a cidade, segundo a médica, torna-se ainda mais improvável quando esses indígenas já tiveram decepções com o sistema de saúde.

Movimento Indígena responde proposta do governo de retomada da CNPI

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) encaminhou, esta semana, ao Secretário Nacional de Articulação com Movimentos Sociais da Secretaria Geral da Presidência, Paulo Maldos, carta com resposta à proposta de retomada da Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI) apresentada pelo governo durante encontro com os representantes dos ministérios na 6ª reunião do Fórum Nacional de Lideranças Indígenas (FNLI), principal instância de decisão da APIB, no último dia 29 de julho.

Anteriormente, a bancada indígena havia decidido se retirar temporariamente das reuniões da CNPI até que o Movimento Indígena fosse recebido pela Presidente Dilma Rousseff, conforme compromisso assumido pelo governo durante a realização do Acampamento Terra Livre no mês de maio. O motivo principal foi o total descaso do novo governo diante dos graves problemas enfrentados pelos indígenas de todo país e o esvaziamento da comissão por parte dos membros do poder Executivo. Vale lembrar que, até o momento, a presidente já se reuniu com a maioria dos representantes de movimentos sociais, com exceção dos indígenas. Clique aqui e leia mais sobre a paralisação das atividades da CNPI.

No encontro com o governo, durante o FNLI, o secretário Paulo Maldos propôs o retorno das atividades da CNPI e se comprometeu a : monitorar as demandas específicas dos povos e organizações indígenas encaminhadas aos distintos órgãos de governo (ministérios, secretarias e outras autarquias); garantir a participação integral do governo na comissão e trabalhar, a curto prazo, pela definição de uma agenda com a Presidente e os ministros ligados à questão indígena. Os dirigentes da APIB decidiram  levar a proposta para discussão nas bases e agora apresentam sua resposta ao governo.
Leia abaixo a íntegra da carta resposta enviada à Secretaria Geral da Presidência da República :

Brasília-DF, 16 de agosto de 2011.

Resposta à SNAS/SGPR sobre CNPI, Monitoramento de Agenda e Audiência com a Presidenta da República e outras demandas da APIB
Ao Excelentíssimo Senhor Paulo Maldos
Secretário Nacional de Articulação com Movimentos Sociais (SNAS)
Secretaria Geral da Presidência da República (SGPR)

Prezado Senhor,

Em resposta às propostas apresentadas por vossa excelência na 6ª. Reunião ordinária do Fórum Nacional de Lideranças Indígenas (FNLI) da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) realizada na tarde do dia 29 de julho do corrente, no Centro cultural de Brasília (CCB) com a participação de vários representantes de órgãos governamentais envolvidos com políticas públicas voltadas aos povos indígenas, viemos por meio da presente manifestar.

Primeiro – A APIB recebe com satisfação a proposta da Secretaria Nacional de Articulação Social da Secretaria Geral da Presidência de monitorar as demandas específicas dos povos e organizações indígenas encaminhadas aos distintos órgãos de governo (ministérios, secretarias e outras autarquias), mas requer que sejam seguradas condições para um diálogo permanente.

Segundo – A APIB também reconhece que a Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI) é um espaço importante de diálogo, enquanto não é criado o Conselho Nacional, mas lamentavelmente foi esvaziada, fragilizada e desvirtuada pela própria bancada governamental e pela forma como foram conduzidos os trabalhos, implicando na quebra de confiança sobretudo por parte da presidência da Comissão, conforme a bancada indígena analisou para justificar a suspensão de sua participação na 17ª. reunião ordinária.

Para a APIB é sim importante retomar a CNPI. Mas para isso reivindica, como já foi manifestado pela bancada indígena, que a excelentíssima Presidenta da República Dilma Roussef e seus ministros envolvidos com a questão indígena compareçam a esta instância dispostos a estabelecer uma agenda de trabalho e metas concretas, explicitando qual é a política indigenista que irá adotar para o atendimento das demandas e reivindicações que reiteradamente temos apresentado ao governo nesta Comissão ou por intermédio dos nossos povos e organizações representativas como aconteceu no último Acampamento Terra Livre realizado em Brasília no período de 02 a 05 de maio de 2011.
Da mesma forma que a Presidenta recebeu a outros movimentos sociais, a APIB e seus representantes na CNPI quer conversar diretamente com a autoridade máxima do país, pois entende que cabe a ela dar o norte à política indigenista que os distintos órgãos governamentais devem formular e implementar, com a participação dos nossos povos e organizações.

Como já foi reiterado na reunião do dia 29 de julho pelos dirigentes da APIB, há questões importantíssimas que os dirigentes da APIB anseiam discutir diretamente com a Presidenta da República, relacionados por exemplo com o agravamento da violação dos direitos indígenas, a falta de coordenação entre os órgãos e as políticas setoriais, a morosidade no atendimento das demandas indígenas, a especificidade da questão indígena e a excepcionalidade dos custos de seu atendimento.

Terceiro – Em razão desses entendimentos a APIB concorda que em ação coordenada entre a Secretaria Geral da Presidência, Ministério da Justiça, Fundação Nacional do Índio e a própria organização indígena seja construída e viabilizada a agenda com a Presidenta da República, com o propósito de retomar a CNPI num outro patamar com o envolvimento pleno da bancada do governo e metodologia que reflita a atual configuração da política indigenista, sem, contudo, perder de vista a urgente aprovação e o funcionamento do Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI).
Quarto – Independentemente deste processo, no entanto, é preciso que o Governo da Presidenta Dilma cumpra com os compromissos herdados do seu antecessor ou assumidos por seus ministros, inclusive no âmbito da CNPI, tais como a Assinatura do Decreto de criação da Política de Gestão Territorial e Ambiental em Terras Indígenas (PNGATI), a articulação junto à Presidência da Câmara dos Deputados da inclusão na ordem do dia do Projeto de Lei 2057/91 e de criação de comissão especial para a análise do novo Estatuto dos Povos Indígenas, o empenho na tramitação e aprovação do Projeto de Lei 3.571/2008 que cria o Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI), a adoção de medidas junto à Polícia Federal para conter o processo de criminalização de comunidades e lideranças indígenas. Inclusive, alguns destes compromissos, como a assinatura do Decreto da PNGATI, poderiam ser efetivados pela Presidenta durante a próxima reunião ordinária da CNPI.

Cientes de contarmos com a sua compreensão agradecemos antecipadamente a sua atenção.
Atenciosamente,
Dirigentes do 6º Fórum Nacional de Lideranças Indígenas (FNLI) da APIB

terça-feira, 16 de agosto de 2011

ENTREVISTA: Traços de uma cultura em transformação

 Entrevista especial com Saulo Feitosa, Secretário do Conselho Indigenista  Missionário, que fala sobre o projeto que pretende criminalizar indígenas pela suposta prática de infanticídio

“Se as pessoas querem defender a vida das crianças indígenas, devem aderir a outros projetos de lei”, como o Estatuto dos Povos Indígenas, diz Saulo Feitosa, ao criticar o Projeto de Lei 1057/2007, que criminaliza os povos que praticam infanticídio.

Em entrevista concedida por telefone, ele explica que todos os indígenas que vivem no Brasil estão submetidos à legislação brasileira e que, portanto, não há necessidade de sancionar o Projeto de Lei 1057/2007, de autoria do deputado Henrique Afonso (PT/AC). Na avaliação do secretário do Cimi, o Projeto tem uma carga preconceituosa, racista e serve “para ampliar o grau de preconceito da sociedade contra os povos indígenas, e para justificar interesses colonialistas que se mantêm nos dias de hoje”.

De acordo com Feitosa, o infanticídio era praticado no período colonial e desde o início da década de 1990 não se têm informações de casos de infanticídio em tribos indígenas. “Todos os registros históricos, dos quais tenho conhecimento, acenam que, entre os indígenas, o índice de infanticídio é baixíssimo. Inclusive viajantes como Fernão Cardim, que escreveu um livro sobre os hábitos do Brasil, faziam referência à maneira carinhosa como as mulheres indígenas cuidavam de seus filhos em comparação às mulheres de Lisboa. (...) Causa-nos estranheza que, 500 anos depois, apareçam grupos fundamentalistas acusando indígenas de matanças generalizadas de suas crianças”.

Feitosa explica ainda que o infanticídio era regido por uma cosmologia indígena e que fazia parte da cultura de alguns povos. “O fato de existir uma narrativa cosmológica não significa que a cultura se mantém atualizada”, enfatiza. E dispara: “A questão do infanticídio, na prática, é residual porque os povos mudam suas culturas”.

Confira a entrevista:

Como avalia a polêmica acerca da prática do infanticídio e o projeto de lei que criminaliza indígenas e profissionais de órgãos governamentais por tais práticas? ONGs e deputados evangélicos acusam o governo de cruzar os braços diante da morte de crianças e defendem que o Estado é obrigado por lei a protegê-las.

Saulo Feitosa – Por trás desse projeto de lei e desse debate existe uma questão fundamentalista religiosa e uma questão política. Os povos indígenas estão submetidos à mesma legislação brasileira. Portanto, se vierem a cometer qualquer crime, serão julgados e punidos como todos os cidadãos deste país. Hoje, aproximadamente 750 indígenas estão cumprindo pena no sistema penitenciário nacional. Desse modo, não há razão para existir uma lei específica para falar de infanticídio indígena. No entendimento do Cimi, na medida em que se cria uma lei, os índios seriam, duas vezes, julgados e condenados por um mesmo crime.

Todos sabemos que os indígenas defendem a vida, a natureza. Portanto, existe uma campanha nacional e internacional negativa contra os povos indígenas e isso gera um descrédito da população em relação a essas comunidades. É nesse contexto ofensivo contra os direitos indígenas que surge a questão do infanticídio indígena. Os propositores do Projeto de Lei 1057/2007 afirmam que há, entre os povos indígenas do Brasil, a prática do sacrifício de crianças e que esta prática não é combatida pelo Estado e pelos órgãos que atuam junto dos povos indígenas. Sendo assim, eles querem obrigar as pessoas que trabalham com a questão indígena a denunciarem os índios caso suspeitassem da possibilidade de alguma mulher, em processo de gestação, abandonar o filho. Se os profissionais não denunciarem os indígenas, serão julgados pelo crime de omissão. Essa medida mostra novamente a carga preconceituosa e racista do projeto.

Qual é a origem e o sentido do infanticídio para as comunidades indígenas? Ele ainda é praticado no Brasil? Quais são as etnias indígenas que praticam o infanticídio?

Saulo Feitosa – Segundo os parlamentares que querem aprovar o Projeto de Lei, o infanticídio seria uma prática regular dos povos indígenas. Temos conhecimento de experiências isoladas, da mesma forma que identificamos casos de abandono infantil na sociedade brasileira. Semanalmente, assisto, no noticiário, informações de crianças abandonadas em grandes cidades: recém-nascidos jogados em lixeiras, abandonados nas ruas, etc. Essa questão do abandono e, mesmo do assassinato de crianças, é uma questão que aflige a toda a humanidade.

Todos os registros históricos dos quais tenho conhecimento acenam que, entre os indígenas, o índice de infanticídio é baixíssimo. Inclusive viajantes como Fernão Cardim, que escreveu um livro sobre os hábitos do Brasil, faziam referência à maneira carinhosa como as mulheres indígenas cuidavam de seus filhos em comparação às mulheres de Lisboa. Muitos historiadores afirmam que a prática de infanticídio era comum no período colonial, especialmente em comunidades que viviam no Rio de Janeiro, Salvador e Recife. Há relatos históricos de uma quantidade enorme de recém-nascidos que eram abandonados nas calçadas, nas ruas, mortos e comidos por porcos e cachorros. Os historiadores que relatam esses fatos sempre os comparam com a questão indígena, e afirmam que, entre os índios, essa prática era muito diminuta.

Causa-nos estranheza que, 500 anos depois, apareçam grupos fundamentalistas acusando indígenas de matanças generalizadas de suas crianças. Nós, do Cimi, temos conhecimentos de casos isolados. Alguns missionários já presenciaram atos de abandono de crianças nas florestas. Entretanto, não temos relatos recentes de missionários sobre esses casos. Por isso, não podemos afirmar que há prática de infanticídio nas comunidades indígenas e, tampouco, que acontecem em grandes proporções.

Infanticídio

Vi, em matéria recente de um jornal de grande circulação, que, de um total de 250 povos, cerca de 20 praticam o infanticídio. Não sei como eles chegaram a esse número, considerando que os últimos registros do Cimi datam de 1990. Sabemos que oito povos ainda praticam o infanticídio, os quais têm pouquíssimo contato com a sociedade nacional.

Antigamente alguns povos abandonavam recém-nascidos por não ter informações sobre o que significa, por exemplo, uma criança nascer com retardamento psicomotor. Não tendo condições de sobreviver na floresta, essas crianças eram abandonadas. Há outros relatos de crianças que nascem sem um “pai social”. Para os indígenas, uma criança que nasce sem um pai para poder caçar e garantir a sua sobrevivência não tem condições de sobreviver. Nesses casos, os recém-nascidos eram abandonados por questões práticas, pois, na percepção da comunidade, não teriam condições de sobreviver na selva. Outros relatos referem-se às narrativas cosmológicas do nascimento de gêmeos. Pesquisadores registraram, através da história oral, que não se aceitava, em determinadas culturas, o nascimento de gêmeos. Então, em função da cosmologia e dos mitos de origem do povo, se acreditava que os gêmeos deveriam ser sacrificados.

Campanha contra o infanticídio

Hoje, essas campanhas contra o chamado infanticídio indígena se fundamentam nesta narrativa cosmológica, o que, para nós, é um absurdo. O fato de existir uma narrativa cosmológica não significa que a cultura se mantém atualizada. A prática dos processos de cultura é dinâmica. Então, deve haver, em povos que têm pouco contato com outras culturas, essa referência cosmológica, que justificaria o abandono de uma criança gêmea, por exemplo. Mas em muitos povos onde essa narrativa estava presente, a prática deixou de existir. É muito fácil compreender isso: muitas práticas do Antigo Testamento são condenáveis na sociedade de hoje. Apesar de elas permanecerem na Bíblia, não são praticadas pelos cristãos do século XXI. Então, não podemos olhar para o nosso universo religioso e olhar para os demais povos de outra forma. Embora subsista, nas narrativas cosmológicas, informações a respeito da gravidez de gêmeos, na prática, as ações têm se alterado. Por isso, costumamos dizer que a questão do infanticídio, na prática, é residual porque os povos mudam suas culturas. O pluralismo histórico acontece em todas as culturas, as quais adquirem, com o tempo, novas formas.

Quando o Cimi foi fundado, os povos indígenas não tinham acesso à saúde e, portanto, os missionários eram treinados para suprir essa carência. Hoje, existe a assistência à saúde, ao médico, por mais precária que seja. Isso também contribui para alterar a cultura dos povos.

No Mato Grosso tem um povo formado por aproximadamente 100 pessoas. Eles foram combatidos em 1978. Na época, sobreviveram 27 pessoas. Desde então acompanhamos essa comunidade. Daquele número de 27 pessoas, eram poucas as mulheres em idade fértil. Logo após a inserção da nossa equipe na comunidade, nasceu uma criança doente. Para os indígenas, o recém-nascido era vítima de feitiço e, portanto, deveria ser sacrificado. Os missionários que estavam no local explicaram que, na nossa sociedade, havia uma espécie de pajé que conseguia realizar um tratamento e sanar aquela deficiência. A comunidade aceitou e a criança foi levada a um hospital em Goiânia, onde foi submetida a uma cirurgia de reparação. O bebê retornou um tempo depois e foi aceito pela comunidade. Para resolver essa questão, não foi preciso uma lei, mas, sim, diálogo. É lógico que depois daquele acontecimento, a cultura da comunidade sofreu mudanças. Então, nada justifica que agora se insista na aprovação de um projeto de lei para criminalizar um povo. Projetos como esse servem para ampliar o grau de preconceito da sociedade contra os povos indígenas e para justificar interesses colonialistas que se mantêm nos dias de hoje.

Esses povos têm muitos valores e nós precisamos aprender com eles. Então, não aceitamos, em hipótese alguma, essa leviandade que está sendo veiculada na mídia, inclusive com a produção de um pseudodocumentário mentiroso que fala do enterramento de crianças junto dos povos Suruwahá. Não se trata de um documentário e, sim, de uma ficção gerada pela mente colonizadora.

O povo Suruwahá pratica o suicídio coletivo. Eles são conhecidos como o povo do veneno. A população deles é diminuta, algo em torno de 100 pessoas. Com a morte dos adultos, muitas crianças ficam órfãs. Então, o problema do Suruwahá não é o infanticídio e, sim, o suicídio. Os membros de organizações que criticam o infanticídio dizem que os índios praticam o suicídio porque são obrigados a matar seus filhos e, para não matá-los, elas se suicidam. Isso é uma mentira, uma distorção de informações. Esse povo sofreu, há séculos, um grande ataque e os sobreviventes nunca mais conseguiram formar novos pajés. Então, eles adotaram a prática do suicídio ainda jovem para se encontrarem com os pajés em outra esfera. Este ano estive na Amazônia e a equipe que trabalha lá disse que houve redução de casos de suicídios entre esses índios dessa etnia.
Então a discriminação contra os indígenas tem um viés religioso? Que religiões manifestam essa posição e por quê?

Quem coordena e estimula essa campanha é a ONG Atini – Voz pela vida, e outros grupos religiosos fundamentalistas. O povo brasileiro tomou conhecimento do infanticídio a partir do ano de 2006, quando foi produzido um documentário chamado Hakani. A história de uma sobrevivente, que mostra o enterro de crianças vivas. Os atores indígenas que desempenharam esses papéis receberam 30 reais. Depois da veiculação do vídeo, o Ministério Público entrou com uma ação contra os produtores do documentário, porque as crianças que apareceram no filme pertenciam ao povo Karitiana, de Rondônia. O documentário foi exibido em um programa de televisão e as pessoas da comunidade assistiram. Pela cultura daquele povo, quem simula o enterramento perde a sua alma. Portanto, as imagens criaram um problema cultural grave para as crianças. Inclusive, no depoimento para o Ministério Público, os pais das crianças indígenas disseram que receberam 30 reais para as crianças serem fotografadas. Eles não sabiam que elas participariam de um documentário.

 Quais são as razões da intolerância indígena hoje?

Saulo Feitosa – Uma das razões é a distribuição da terra. A grande função do projeto de Lei é criar, dentro do Congresso Nacional, um clima anti-indígena porque existem diversos projetos de leis a favor dos povos indígenas tramitando no Congresso. Há uma campanha internacional para demonstrar que os povos indígenas são selvagens. Essa imagem certamente irá repercutir em outros projetos de leis referentes à demarcação de terras indígenas, exploração de minérios em terras indígenas, etc., reforçando a imagem negativa que se tem desses povos.

Se as pessoas querem defender a vida das crianças indígenas, devem aderir a outros projetos de lei. Existe no Congresso uma proposta, que foi amplamente discutida com todos os povos indígenas do Brasil, sobre a criação do Estatuto dos Povos Indígenas, porque a legislação que está em vigor é de 1973, ou seja, é anterior à Constituição Federal e, portanto, não está adequada para a atual situação dessas comunidades. O novo texto tem, inclusive, um artigo especial de proteção à criança e ao adolescente indígena, o qual enfatiza que, caso uma criança seja rejeitada pelos pais, poderá ser adotada por pessoas do próprio povo ou povos próximos.

Nesta semana, o povo Kaingang bloqueou sete estradas federais no Rio Grande do Sul, reivindicando melhores condições na área da saúde. Eles argumentam que, embora tenham acesso ao SUS, as condições de atendimento são precárias. Como avalia essa questão? O acesso à saúde entre as comunidades indígenas é mais precário do que para a população em geral?

Saulo Feitosa – No final dos anos 1980, o Brasil instalou um sistema correlato de atenção à saúde indígena. Portanto, os índios têm um sistema próprio de saúde que se fundamenta nos distritos especiais indígenas. Esses distritos foram projetados com a perspectiva de serem autônomos do ponto de vista da gestão, assim, eles teriam quadros de funcionários para atender as comunidades. Esse projeto de assistência à saúde foi bem desenhado, mas, na prática, ocorreram privatizações e um esvaziamento da proposta original de se criar distritos para atender as comunidades. Os serviços foram terceirizados e essa terceirização foi agravada pelo alto índice de corrupção dentro da Fundação Nacional da Saúde – Funasa: auditorias demonstram os desvios de verbas da saúde pública. Além disso, cargos foram loteados para políticos e os distritos não foram administrados por pessoas competentes. Nesse sentido, a saúde indígena é tão precária quanto à dos demais brasileiros. O governo deveria abrir concurso público para atender à saúde indígena. Enquanto isso não acontecer, continuaremos assistindo essa precariedade e a morte de crianças.

Como vê a política indigenista hoje? Quais os avanços e os limites?

Saulo Feitosa – O governo e a Fundação Nacional do Índio – Funai têm um discurso progressista de reconhecimento aos direitos indígenas, de valorização da cultura, mas, uma prática colonialista. O governo Lula criou a Comissão Nacional de Política Indigenista, a qual pensávamos ser um processo importante, mas percebemos que o governo inicialmente apenas sinalizou para uma discussão. Quando os índios passaram a exercer a sua autonomia, o governo começou a tomar atitudes autoritárias ao ponto de fazer uma reestruturação da Funai sem discutir com os povos indígenas. Esse era um processo para ser feito como uma construção coletiva, e não reproduzindo modelos autoritários do período militar.

Ainda este ano, o presidente da Funai, junto com o ministro da Justiça e o delegado geral da União, publicaram uma portaria para redefinir as bases para a demarcação de terras indígenas incluindo a participação dos municípios, que historicamente sempre foram contra à demarcação de terras por causa de interesses econômicos e políticos locais. Essa situação se agravou e, na última reunião da Comissão Nacional de Política Indigenista – CNPI, em junho, os representantes indígenas dessa comissão, em protesto, disseram que não votariam e se retirariam da reunião. Eles só voltariam a se reunir se a presidenta Dilma estivesse presente porque, desde que foi eleita, ela não conversou com as representações indígenas do país.

As obras do PAC afetam as terras indígenas e os povos não são consultados, embora o país seja signatário da Organização Internacional do Trabalho – OIT, e embora a Constituição obrigue o Estado a fazer consultas em relação a temas polêmicos como Belo Monte, a transposição do rio São Francisco, as hidrelétricas do rio Madeira etc. Diria que os documentos do governo não reproduzem mais o ranço da ditadura militar, mas, na prática, agem da mesma maneira.


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos (IHU) On-line

ARTIGO - Vida e morte nos caminhos Guarani

Por Egon Heck

Foram mais de mil quilômetros andados pelas aldeias e acampamentos Kaiowá Guarani em Mato Grosso do Sul, na fronteira com o Paraguai. Ali a vida anda devagar, e a morte espreita nas esquinas da estrada.

Em todos os lugares em que chegávamos entregávamos papéis muito singelos: os convites para a Aty Guasu na comunidade Passo Piraju. Oportunidade ímpar para rever os amigos, sentir o pulsar forte do coração Kaiowá Guarani em suas diversas circunstâncias. Momento de ouvir palavras sábias do Nhanderu Atanásio, de sentir a alegria do grupo do Ypo’i, para os quais levamos material escolar, pois estavam dando aula “apenas com papel sulfite” como nos confidenciou uma liderança. Para eles também entregamos um exemplar da revista Mensageiro que traz na capa foto de duas crianças do Ypo’i. À equipe da revista queremos externar, em nome dos Kaiowá Guarani a gratidão por todo o apoio que deram, e dizer que valeu e muito, a divulgação da realidade desse povo através do vídeo Semente de Sonhos, que foi distribuído em vários países da América do Sul.

A lua nos guiou até Kurusu Ambá. Lá chegamos ao entardecer. A comunidade estava reunida, celebrando a importante vitória que conseguiram na Justiça Federal da 3ª Região, em São Paulo. Por unanimidade os juízes entenderam que a comunidade poderia ficar no local em que estão desde novembro de 2009, quando retornaram a uma pequena mata, do seu tekohá Kurusu Ambá. Foi maravilhoso poder passar a noite marcada pelo ritual e depois o silêncio total, apenas rompido pelos ruídos de alguns animais e aves. A lua cheia à beira do riacho foi um espetáculo à parte. São esses raros momentos de oásis, na turbulência e violência em que se encontra a maioria das aldeias e acampamentos. Eliseu, liderança que representa a Aty Guasu e movimento Kaiowá Guarani na Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), construiu, na aldeia, uma casa para receber os visitantes. Passamos aí uma noite maravilhosa. Andar nas trilhas da mata e sentir um pouco do Bem Viver que procuram aí construir, é um privilégio.

Em Nhanderu Marangatu nos informaram que continua a pressão e violência contra a comunidade e o meio ambiente. Loretito informou que continuam tirando postes da terra indígena, e ameaçando os membros da comunidade. Ele espera que essa situação se resolva o quanto antes. Para isso enviaram documento à comissão do Conselho Nacional de Justiça que irá tratar especificamente da questão das terras indígenas no Mato Grosso do Sul. A primeira reunião será no dia 15 deste mês, em Brasília. No documento pedem empenho e prioridade para a situação desta terra indígena “por ser emblemática em termos das terras indígena no MS e ao mesmo tempo ser dramática, pois ali vivem mais de mil pessoas em 127 hectares.”

Na Terra Indígena Amambai, participamos de um encontro do Movimento dos Professores Kaiowá Guarani, que já são mais de 300. Há 17 anos o movimento vem tomando várias iniciativas, dentre as quais o encontro anual, que neste ano será no início de outubro na aldeia de Pirakuá. Discutiram sobre o Território Etnoeducanional do Cone Sul, que abrange as comunidades Kaiowá Guarani. Mas principalmente buscaram fazer uma autocrítica do movimento e traçar algumas estratégias com relação a vários problemas e retrocessos com relação à educação escolar indígena. Repudiaram as palavras discriminatórias e racistas do governador do estado com relação aos direitos, lutas e realidade do povo Kaiowá Guarani.

Destruição dos barracos de Pyelito Kuê e Mabarakaí

Na noite deste sábado, 13 de agosto, capangas invadiram o acampamento Iguatemi, que integra a área conhecida como Pyelito Kuê. Durante a ação, os indígenas se preparavam para mudar o acampamento para outro lugar na mata, que fica na fazenda Santa Rita. Diversos barracos foram destruídos e os capangas levaram o que podiam dos barracos, inclusive as lonas, sob as quais os Kaiowá Guarani vivem. A fazenda é de propriedade da família do prefeito de Iguatemi José Roberto Filippe.

Há três dias a Polícia Federal esteve na sede da fazenda informando da presença dos índios, para que não houvesse violência. Porém os Kaiowá Guarani acampados, que foram vítimas de violência em momentos anteriores, temem que se possa repetir um ataque de pistoleiros. Por esta razão solicitam a presença da Polícia Federal na região para evitar ações semelhantes.

A um dos membros da Aty Guasu, que desde o inicio da retomada deu total apoio a seus parentes na luta pelo seu tekohá, externou sua confiança de que não haja violência e que os órgãos responsáveis pela demarcação e garantia das terras indígenas resolvam a questão das terras indígenas Kaiowá Guarani o mais rápido possível.

Quando da nossa passagem na aldeia de Sassoró nos encontramos com Marcia, esposa de um dos líderes do acampamento. Ela expôs a Eliseu as apreensões e dificuldades do grupo. Além da tensão e temor de ataques, estão necessitando com urgência de alimentos.
Tudo muito estranho

No dia 12 de agosto Emilio Pedro, de 56 anos, do acampamento Guirá Kambi’y, município de Douradina, saiu para trabalhar um pouco no seu roçado. Na manhã do dia seguinte foi encontrado enforcado, próximo a um córrego. A comunidade ficou perplexa. Ele era um dos Nhanderu (lideres religiosos) que com muito entusiasmo e alegria recebia com reza ritual todos os visitantes. Recordo-me de seus gestos acolhedores quando há uma semana, estivemos com a comunidade entregando os convites para a Aty Guasu. Ele era um dos que iriam ao importante evento, que será realizado na aldeia de Passo Piraju, município de Dourados, de 19 a 22 deste mês.
Um dos conselheiros da Aty Guasu esteve na comunidade, participando do velório e do sepultamento ontem, em pleno Dia dos Pais. Ele apenas comentou: “Tudo muito estranho”.
Emilio era casado com Vilma Quevedo e deixou seis filhos. Apesar da dor sentida pela comunidade, terão que superar esse sofrimento buscando novas energias para continuarem a vida na luta pela terra, no acampamento. Nós da equipe do Cimi nos solidarizamos com os familiares e a comunidade, na certeza de que a luta continua, e que a vitória da terra está próximo.

Fonte: CIMI / MS

sábado, 13 de agosto de 2011

LIDERANÇA INDIGENA PATAXÓ JOEL BRÁZ É ABSOLVIDO.

No dia 10/08/2011 o juiz da Justiça Federal da Vara Unica de Eunapóilis/Ba. proferiu senteça inocentando a liderança indigena Pataxó Joel Bráz na Ação Penal em que era acusado de sequestro, roubo e carcere privado de 2008. Joel Brás é uma grande liderança pataxó que tem lutado para que o território indigena na região do Monte Pascoal e Parque do Descobrimento Extermo Sul da Bahia seja devolvido aos seus verdadeiros donos, o Povo Pataxó. Devido a essa luta a liderança foi perseguida e criminalizada através de varios processos judiciais, condenado ao ostracismo em prisão domiciliar a mais de trés anos. Joel Bráz sempre alegou inocência e de sofrer calúnia e perseguição por parte dos fazendeiros, pela Veracel invasora do território, por politicos e empresarios do turismo na região do Extermo Sul da Bahia o "unico crime que cometeu sem ter culpa: o de ser índio e lutar pelos seus direitos" (palavras suas ditas num dos Processos).

Atuaram neste processo os advogados Dr. Luciano Porto e Dra. Michael Mary Nolan acionados pelo Conselho Indigenista Missionário. Essa vitória pode significar que os outros processos também irá seguir o meso caminho e inocentar integralmente a liderança Joel Bráz resgatando a sua luta, o reconhecimento do seu povo, e de todos nós, (...) Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido contido na denúncia e ABSOLVO JOEL BRAZ DOS SANTOS das acusações que lhe foram feitas na inicial, nos termos do artigo 386, inciso VI, do CPP. Sem custas. Publique-se (...)

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Indígenas bloqueiam estradas no Rio Grande do Sul para protestar contra caos na saúde

Manifestações ocorrem na ERS 480, ERS 324 e na BR 386

Lideranças indígenas do Rio Grande do Sul resolveram, como forma de protesto, bloquear as principais rodovias federais do norte do estado. O objetivo da manifestação é chamar a atenção das autoridades governamentais para a situação crítica da saúde indígena não somente no sul, mas em todo país.

As lideranças decidiram bloquear quatro pontos em três rodovias no Estado, desde o início da manhã desta segunda-feira. Conforme o Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM), a ERS 480 foi fechada às 8h, no km 32, próximo ao Centro de São Valentim, no Alto Uruguai. A ERS 324 está trancada em dois pontos: no km 35, em Planalto, e no km 91, na localidade de Alto Recreio, município de Ronda Alta. Já em Iraí, o bloqueio ocorre no km 2 da BR 386, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal.

A intenção é manter os bloqueios até que haja um posicionamento dos governos estadual e federal.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Convite para a abertura da Exposição Séculos Indígenas no Brasil


Abertura da Exposição Séculos Indígenas no Brasil - 3ª Edição

Data : 9 de agosto de 2011 - Dia Internacional dos Povos Indígenas - terça-feira, 19h  no Memorial dos Povos Indígenas (Eixo Monumental Oeste, Praça do Buriti) em frente ao Memorial JK, Brasília/DF.

Visitação:  de 10 de agosto a 10 de outubro de 2011.



Ação Educativa Séculos Indígenas no Brasil

Fórum de Atualização sobre Culturas Indígenas: 9 e 11 de agosto de 2011
Curso de Formação de Mediadores Culturais: 5 a 10 de agosto de 2011
Visitas Educativas à exposição: 10 de agosto a 10 de outubro de 2011

Informações: