Cerca
de 200 indígenas dos povos Guajajara, da Terra Indígena Pindaré e Caru,
e Awá-Guajá, Terra Indígena Caru, ocupam desde a manhã desta
terça-feira, 2, a Ferrovia Carajás. O protesto é contra a publicação da
Portaria 303 da Advocacia Geral da União (AGU), publicada no dia 16 de julho.
Os indígenas estão dispostos a permanecer na ferrovia por tempo
indeterminado e pedem a revogação da medida. A Portaria 303, conforme
recente decisão da AGU, foi prorrogada e entrará em vigor logo após a
votação no Supremo Tribunal Federal (STF) das condicionantes da Terra
Indígena Raposa Serra do Sol.
Conforme o advogado geral da
União Luiz Inácio Adams, as condicionantes de Raposa se estendem para
outras terras indígenas, o que viola os direitos constitucionais
indígenas sobre o direito à ocupação do território tradicional. Além de
não se estenderem, as condicionantes sequer foram votadas pelos
ministros do STF. A portaria torna-se inconstitucional quando atenta
também contra a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho
(OIT).
Flauberth Guajajara, indígena que está no movimento,
informou que ontem o dia foi tenso, pois a todo o momento corria um
boato de que a Polícia Federal estaria vindo para cumprir a reintegração
de posse impetrada pela mineradora Vale. A interdição da ferrovia já
dura 24 horas.
Essa luta do povo Guajajara e Awá-Guajá se soma
às lutas dos outros povos indígenas no país que estão gritando, sem
sensibilizar o governo federal, de que são contra a Portaria 303 e
exigem a revogação imediata em defesa da vida – não prorrogações,
adiamentos.
Decreto de extermínio
A Portaria 303
restringe o usufruto das comunidades sobre os seus territórios, trazendo
para a atualidade o decreto de extermínio que o Estado brasileiro segue
cumprindo contra os povos indígenas desde tempos remotos. Os danos da
medida publicada pela AGU são múltiplos.
Entre eles, temos a
inviabilização de novas demarcações de terras, a permissão promíscua
para a instalação em terras indígenas de bases, hidrelétricas (entre
outras grandes obras), unidades e postos militares, sem consulta aos
povos indígenas. Além disso, abre a possibilidade de que todos os
territórios indígenas já demarcados e homologados sejam revistos para se
adequar à portaria. Na prática isso significa reduzir e liberar as
terras indígenas para atender o capital financeiro, o agronegócio e as
obras do PAC.
Com essa portaria, o agronegócio (soja,
eucalipto, gado, cana), a duplicação dos trilhos da Vale, a mineração em
terras indígenas, a invasão das terras indígenas por madeireiros estão
livres para invadir, assassinar, roubar e usurpar as terras
tradicionais. O Cimi, reafirmando seu compromisso histórico com os povos
indígenas, se soma a essa luta pela revogação da Portaria 303 da AGU.
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