Esta
nota das lideranças da Aty Guasu Guarani e Kaiowá objetiva apresentar a
história de início da luta árdua do povo Guarani e Kaiowá pela
recuperação, demarcação e regularização de territórios tradicionais tekoha guasu,
destacando as ações do Governo de Ditadura Militar (1980) e do Governo
Democrático do Brasil (desde 1986-2012) e as ações da Justiça Federal
frente às reivindicações antigas do povo Guarani e Kaiowá que perdura
até hoje. Trata-se, nesse sentido, de descrever as ações cruéis diversas
históricas praticadas equivocadamente contra a vida dos Guarani e
Kaiowá tanto pelo Governo do Brasil quanto pela Justiça Federal, fato
ocorrido nos últimos 50 anos.
Inicialmente,
destacamos que a reivindicação e luta pela demarcação de territórios
Guarani e Kaiowá começou intensamente a partir da década de 1960, no
período de regime da ditadura militar. Assim, a luta Guarani e Kaiowá
para permanecer assentados nos territórios tradicionais desencadeou
frente ao processo de expropriação e expulsão dos Guarani e Kaiowá de
seus territórios tradicionais, portanto, essa luta indígena pela
demarcação dos territórios tradicionais é histórica e antiga.
No
início da década de 1950, o processo de colonização do sul do atual
Estado do Mato Grosso do Sul se intensificou rapidamente e inúmeras
comunidades Guarani e Kaiowá foram expropriadas e expulsas de seus
territórios antigos a partir da atuação conjunta de fazendeiros
recém-chegados e funcionários do primeiro órgão indigenista oficial
(Serviço de Proteção aos Índios) vinculada ao Governo Militar. O
conjunto dessas comunidades indígenas foi transferido ou “confinado”
para a Reserva/Posto Indígena criado pelo Governo Militar através do
Serviço de Proteção aos Índios (SPI). Entre 1915 e 1928
foram criados oito Postos Indígenas (P.I.s) no atual estado do Mato
Grosso do Sul entre os Guarani e os Kaiowá. São eles os P.I.s de
Dourados; Caarapó; Pirajuí, Sassoró; Porto Lindo; Taquapiri; Limão
Verde; Amambai
As
narrações dos indígenas idosos (as) repassadas para a nova geração
Guarani e Kaiowá evidenciam que várias argumentações e táticas violentas
foram postas em prática no momento de chegada dos agentes do Governo
Militar e fazendeiros e na sequencia passaram a praticar aexpropriação e
expulsão dos Guarani e Kaiowá de seus territórios tradicionais. Estes
atos de expropriação, expulsão desvinculação dos indígenas de seus
territórios são compreendidos e definidos pelas lideranças indígenas
como uma das violências irreparáveis. Uma vez que a expulsão e tentativa
de desligamento Guarani e Kaiowá de seu território antigo ocorreram com
violências variadas e sem motivo e sem explicação nenhuma, sobretudo
não há justificativa consistente do ponto de vista indígena para
abandonar os seus antepassados e se desligar dos seus territórios
tradicionais. Por essa razão fundamental, várias comunidades Guarani e
Kaiowá inconformadas e constrangidas já lutaram, ainda lutam e lutarão
reiteradamente pela recuperação desses territórios antigos. Assim a
expropriação e expulsão violenta dos indígenas são definidas como ameaça
de morte coletiva, cultural e física (etnocídio/genocídio). Além disso,
o despejo e expulsão dos indígenas dos seus territórios tradicionais
geram a vida instável, suicídio epidêmico e constrangimento profundo ao
modo de ser e viver indígenas. De modo similar, outra violência que está
levando a extinção cultural e física do povo Guarani e Kaiowá é a
tentativa de “confinamento” na pequena área e transferência compulsória
das famílias indígenas para os Postos Indígenas do Serviço de Proteção
aos Índios.
Em
resumo, importa destacar que na década de 1960 a prática de
expulsão/despejo dos indígenas dos seus territórios foi iniciada pelos
jagunços/pistoleiros dos fazendeiros apoiados pelos agentes do Serviço
Proteção aos Índios. Nas décadas de 1970 e 1980, as expulsões Guarani e
Kaiowá dos seus territórios foram autorizadas pela própria Justiça
Federal que perdura até os dias de hoje. Por exemplo, no último mês,
Justiça Federal de Navirai-MS expediu a ordem de despejo da comunidade
Guarani e kaiowá de Pyelito Kue-Iguatemi-MS. De modo igual, um juiz
federal de São Paulo-SP, assinou o despejo da comunidade Passo
Piraju-Dourados-MS. O teor da justificativa dos juízes federais para
despejar a comunidade Guarani e Kaiowá é muito estranho/ esquisitos, não
procede cientificamente, só levam em considerações os registros
cartoriais do imóvel dos fazendeiros e “produção” que se apropriaram dos
territórios indígenas. Assim, os juízes federais passam a taxar os
indígenas de invasores, temidos, ser inútil e não humano total, no
sentido de que os indígenas não são ocupantes originários dos
territórios, os indígenas fossem procedentes de outro Mundo ou planeta,
ignorando completamente as memórias indígenas e o registro
historiográfico de expropriação e expulsão recente dos indígenas dos
seus territórios tradicionais. Evidentemente, alguns juízes federais
mencionados ignoram e desconsideram o ato de expulsão violentas
indígenas efetuadas pelos atuais “proprietários/fazendeiros”, sobretudo
estes juízes federais apoiam a violência contra a vida humana, ignorando
os direitos indígenas e Humanos.
Por
fim, é essencial registrar que as demandas e reivindicações da
demarcação e reconhecimento oficial de aproximadamente cinquenta (50)
territórios tradicionais pelos indígenas Guarani e Kaiowá começaram
intensamente no final da década de 1970 que persiste até hoje. Diante da
luta e reivindicação constante de reconhecimento demarcação de
territórios Guarani e Kaiowá, no meado de 1980, ainda o Governo Militar
ordenou a identificação e regularização de dez (10) terras indígenas
Guarani e Kaiowá que as demarcações definitivas foram concluídas e os
indígenas reocupam somente em meado da década de 1990, isto é, já após a
redemocratização do Brasil, isto é, há uma década após o Brasil se
tornar país Democrático da República e já com a sua nova constituição
Federal da República estabelecida em 1988. Na sequencia, em meado de
1990, o Governo Federal através da FUNAI mandou identificar e demarcar
mais de dez (10) territórios antigos reivindicados, mas de fato, nenhum
território foi entregue totalmente aos indígenas Guarani e Kaiowá até
hoje. Há mais de uma década já passou, a comunidade indígena reocupa
apenas uma pequena parte dos territórios antigos já regularizados e
demarcados pelo Governo Federal no final de 1990 e no início de 2000. A
partir de 2007, o Governo Federal ordenou a identificação e demarcação
de trinta (30) territórios tradicionais antigos reivindicados em 1980,
porém até no mês de outubro de 2012, nenhum relatório de identificação
foi publicado pelo Governo Federal. Por essa razão, juízes federais
estão expedindo a ordem de despejo e expulsão dos indígenas dos seus
acampamentos, aumentando violências variadas contra a vida indígenas
Guarani e Kaiowá.
Em
suma, somente dez (10) pequenas terras indígenas identificadas e
demarcadas em meado de 1980, no período de regime da ditadura militar
foram concluídas e entregues definitivamente aos indígenas Guarani e
Kaiowá.
Diante
desse quadro histórico mencionado exigimos ao Governo Federal a
devolução total dos territórios já demarcados em 2000. Além disso,
solicitamos a conclusão e publicação de relatórios de identificação de
30 territórios tradicionais Guarani e Kaiowá.
Aos
juízes federais demandamos para levar em considerações a nossa memoria,
trajetória e as violências suportadas que nós indígenas Guarani e
Kaiowá fomos expulsas de nossos territórios tradicionais pelos
fazendeiros ao longo da década de 60 e 70. Por esse motivo, a maioria
das comunidades Guarani e Kaiowá, na década de 1980, já estava assentada
nos Postos Indígenas em que foi transferida de forma violenta para oito
(08) Postos Indígenas criados pelo Serviço de Proteção aos Índios
(SPI).
Aguardamos a posição diferente de Governo e Justiça Federal.
Atenciosamente,
Tekoha Guasu Guarani e Kaiowá-MS, 10 de outubro de 2012
Lideranças de Aty Guasu Guarani e Kaiowá-MS
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